Viagem sem retorno…

O nascimento de um filho, é algo inexplicável, pelo misto de sentimentos que provoca.
São 9 meses de medo, ansiedade, alegria, e de construção de muitos sonhos.
Depois quando sabemos se e rapaz ou rapariga, os sonhos tornam-se ainda mais objectivos…
E rapaz……vamos jogar a bola, vamos andar de bicicleta, vamos….
Depois chega o dia de nascer, em que as emoções ficam ao rubro, em que tudo deixa de existir para que aquele momento mágico aconteça….
Finalmente a grande hora, que todos desejam que seja pequena, mas que foi grandiosa….jamais esquecerei aqueles dois meigos e curiosos olhos castanhos a olharem para mim….para não falar da felicidade sentida por me ter tornado a 1 visão desta criança…….
Tudo foi perfeito, ate me deixaram cortar o cordão umbilical….tanto para contar….
Os meses foram passando, os sonhos passaram a planos, sólidos e consistentes, tanta coisa para partilhar com este pequenino ser maravilhoso.
Ate que chegou o dia para o qual nunca se esta preparado….
Algo estava errado. Algo não era normal.
Começaram os exames, as consultas de especialidades desconhecidas ate então.
A alegria deu lugar a angustia, a felicidade deu lugar a incerteza….
Foi um caminho árduo o da aceitação de que, todos os sonhos e planos tinham sido em vão…
Como podia ser possível?
Tem de ser engano – disse eu repetidamente mim próprio, tudo isto vai passar e tudo vai voltar ao lugar inicial.
Mas não, essa inversão utópica dos acontecimentos, nunca aconteceu! Nada foi como sonhei, nada iria seguir todos os planos feitos ao longo de todo este tempo…..
Que dura realidade esta….
É de facto muito duro encarar e aceitar a realidade.
No entanto por detrás de toda esta carga negativa, existe um outro lado, lado esse que contrariamente ao que se possa pensar é um lado alegre, colorido….
Um lado em que se aprende a dar um valor incalculável aos pequenos triunfos, em que a vida passa a ter um significado diferente.
Quando falo em “Viagem sem retorno”, não o faço numa perspectiva dramática e triste, mas sim porque é esta a realidade.
Apesar de não ter retorno é uma Viagem de aprendizagem e enriquecimento permanentes, onde a alegria por vezes se confunde com a tristeza e a felicidade com a angústia.
No fundo é assim a vida de todos nós – a distância percorrida é que varia….
Vivemos numa sociedade em que a diferença choca e incómoda, muitas vezes por simples desconhecimento, outras vezes por pura negação.
Existe um caminho de várias gerações a percorrer para que se possa considerar a nossa sociedade minimamente esclarecida e sensibilizada para a deficiência.
Todos têm um papel determinante, por muito que afirmem que o problema é só dos outros…
Até pode ser assim, mas a fronteira é mesmo muito ténue…
A todos os País, a todas as Famílias, a todas as pessoas com Paralisia Cerebral, deixo a minha homenagem e o meu forte Abraço.

Luís Pedro